O Direito deve ser uma ferramenta de transformação social e de apoio às pessoas, o que exige uma abordagem mais estratégica, onde a análise de um caso vai além da simples consulta de um processo ou da análise de provas e consequente elaboração de peças processuais.
Essa transformação gera nos profissionais do direito, em especial os advogados e juízes, a necessidade de adoção de uma postura mais humanizada, de olhar onde se deve incluir a empatia e sensibilidade. Cada processo jurídico é uma história de vida e isso é algo que deve ser respeitado.
A operacionalidade do direito, deve ser conjugada com uma abordagem estratégica, que envolva não apenas o entendimento do texto legal, mas também a reflexão sobre os efeitos que aquela decisão terá na vida das pessoas. Isso não significa que o direito deva ser flexibilizado ou que se deva ignorar as leis, ao contrário, trata-se de reconhecer que a aplicação da lei deve ser acompanhada de uma compreensão mais profunda das circunstâncias que envolvem cada caso.
A humanização do direito não é apenas uma tendência, mas uma necessidade premente.
Nesse sentido, a transformação do direito envolve a promoção de um equilíbrio entre a letra da lei e o contexto em que ela é aplicada. As soluções jurídicas devem ser capazes de atender tanto às necessidades formais quanto às humanas.
Ao longo da minha trajetória no campo jurídico, percebi a importância de adotar uma visão mais estratégica e sensível na prática da advocacia.
Além disso, as minhas próprias características, ligadas à minha condição feminina, ajudaram-me a perceber a relevância da empatia e da humanização no direito.
O direito deve ser uma ferramenta de apoio, transformação e promoção da dignidade humana. Essa mudança de perspectiva é a chave para um sistema jurídico mais justo, acessível e eficaz, que atenda não apenas às necessidades legais, mas também às humanas.
É necessário trazer para o debate uma nova forma de viver no direito.
A transformação que testemunhamos hoje na sociedade é, em grande parte, resultado da presença feminina nas esferas jurídicas.
A presença e o impacto das mulheres no campo do direito cresceram significativamente nas últimas décadas e isso é algo que devemos comemorar.
Vemos essa diferença em todos, nos homens também, o que nos obriga a olhar para o sistema sem exclusões. Esta na hora de reconhecer e valorizar o papel das mulheres no direito, não apenas como profissionais, mas como agentes da mudança e da esperança.
Historicamente, as mulheres precisaram adotar posturas mais “masculinizadas” para serem ouvidas e defenderem os seus direitos. Para ser reconhecidas em muitas áreas, como o direito e os negócios, foi necessário moldarem-se a um padrão masculino. No entanto, hoje, mais do que nunca, devemos valorizar nossa identidade feminina.
Num mundo cada vez mais digital e interconectado, as mulheres têm a capacidade de trazer empatia, paciência e resiliência para os espaços em que atuam. Não se trata de uma luta por cotas ou por imposições artificiais, mas de uma busca por reconhecimento e igualdade de oportunidades. Devemos, sim, considerar a nossa importância e as nossas capacidades, pois somos efetivamente complementares aos homens.
Embora a sociedade tenha avançado significativamente na última década, as desigualdades de gênero ainda persistem, especialmente no que diz respeito ao avanço profissional das mulheres. O relatório Mulheres no Local de Trabalho, de 2024, da McKinsey, revela números preocupantes sobre a promoção e ascensão das mulheres em cargos de liderança. Para cada 100 homens promovidos, apenas 81 mulheres avançam nas suas carreiras. Esse dado reflete a dificuldade das mulheres de atingirem posições de destaque, apesar das suas qualificações.
Além disso, mesmo com as mulheres detendo 59% dos diplomas de bacharelato, elas representam apenas 48% das contratações para cargos juniores. O mais alarmante é que essa disparidade se amplia à medida que se sobe na hierarquia empresarial. A cada degrau, as mulheres enfrentam mais obstáculos para avançar, o que evidencia as barreiras estruturais persistentes no mercado de trabalho.
Essas desigualdades não só limitam o progresso profissional das mulheres, mas também representam uma enorme perda de talentos valiosos para as empresas e organizações. Mulheres qualificadas e preparadas muitas vezes não têm acesso às mesmas oportunidades de liderança que seus colegas masculinos, o que impacta negativamente o crescimento e a inovação organizacional.
O relatório da McKinsey também destaca que as mulheres têm mais probabilidades do que os homens de abandonar seus empregos por se sentirem subvalorizadas ou ignoradas. Esse fenômeno não é uma exceção, mas sim uma realidade que afeta muitas mulheres em diversas áreas, inclusive no direito. Quando uma mulher se sente invisível ou desvalorizada no seu ambiente de trabalho, a motivação para continuar e se desenvolver na carreira diminui consideravelmente.
Essa perda de talentos é prejudicial não apenas para as mulheres, mas para as próprias organizações. A falta de liderança feminina não só cria lacunas em posições de comando, mas também impede o crescimento das empresas e a inovação, aspectos fundamentais para o sucesso no mundo corporativo e no mercado de trabalho atual. No direito, essa falta de liderança feminina pode se traduzir em uma visão distorcida da sociedade e da justiça, que precisa refletir a diversidade de experiências e perspectivas para ser verdadeiramente eficaz.